Publicado em: 08/10/2020 19:36:59
Não há indícios científicos que comprovem que o vírus é resultado de engenharia genética.
Checagem em 08/10/2020
Por TAYNA ARAUJO
No dia 14 de setembro, o site Poder360 publicou uma matéria a respeito da polêmica declaração sobre o novo Coronavírus dada através de uma entrevista pela doutora Li-Meng Yan, uma virologista chinesa, ao talk show britânico Loose Women em que a mesma afirma haver evidências de que o SARS-CoV-2 foi "convenientemente criado" em um laboratório da China. Um artigo escrito com co-autoria de outros três pesquisadores chineses que embasaria sua afirmação foi publicado no mesmo dia no site Zenodo.
Com o intuito de esclarecer e verificar a veracidade das informações, ARUANA foi em busca dos fatos que foram apresentados e de seus contrapostos.
#Vacilou
Em artigo científico, os pesquisadores chineses Li-Meng Yan, Shu Kang, Jie Guan e Shanchang Hu afirmam haver evidências de que o novo Coronavírus foi "convenientemente criado" pelo governo da China. Na pesquisa os cientistas apresentam três evidências que supostamente embasariam sua tese. Na primeira, explicam que, de modo suspeito, a sequência genômica do SARS-CoV-2 é parecida à de um coronavírus de morcego descoberto por laboratórios militares, porém a semelhança com o vírus presente nesse mamífero foi apontada por outros pesquisadores como um dos motivos que afastariam a hipótese do novo coronavírus ter sido criado artificialmente. As outras duas evidências descritas no artigo falam sobre a proteína spike. Eles acreditam que a versão dessa estrutura presente no novo coronavírus tem elementos que só podem ter sido modificados e adaptados por mãos humanas.
A pesquisa, disponível apenas na plataforma Zenodo (uma espécie de repositório de dados e publicações abertas ao público), no entanto, não saiu em nenhuma revista científica de peso, nem foi revisado por pares – parte do processo necessário para publicação, em que um grupo de pesquisadores independentes revisa a metodologia, análises e resultados para avaliar se o estudo cumpre com o rigor técnico exigido.
O artigo ganhou notoriedade mundial após um de seus autores, a médica Li-Meng Yan, vir a público numa entrevista para o programa de TV Loose Women do Reino Unido falando sobre o tema, dentre diversos outros problemas que disse enfrentar em relação ao governo da China e até mesmo a Organização Mundial da Saúde. Quando questionada sobre a origem do vírus a Doutora Yan respondeu: “Ele vem do laboratório em Wuhan e o mesmo é controlado pelo governo da China”. A cientista ainda insistiu que a informação de que o vírus se originou em um mercado úmido da cidade chinesa é um espécie de "cortina de fumaça" para abafar o caso e concluiu: “[...] esse vírus não é da natureza”, explicando que obteve “suas informações do CDC na China, dos médicos locais”.
De acordo com seis importantes especialistas em biologia evolutiva e doenças infecciosas consultados pela revista de notícias Newsweek em uma reportagem no dia 15, a pesquisa chinesa divulgada recentemente "não oferece nenhuma informação nova e faz inúmeras afirmações infundadas". Um dos cientistas, Carl Bergstrom, pesquisador da Universidade de Washington, apontou que “o artigo não é baseado em uma interpretação objetiva do genoma do SARS-CoV-2”.
Em um estudo publicado em 26 de março na revista médica Nature Medicine sobre a identificação do coronavírus, pesquisadores analisaram as características da proteína spike do vírus (usada para respaldar parte da teoria de que o mesmo foi artificialmente criado) e indicaram que ela é tão eficaz em desempenhar o papel de infectar os humanos que só poderia ter sido resultado de uma seleção natural, não de engenharia genética.
Em uma declaração publicada oficialmente pela comissão científica da revista The Lancet, os especialistas reconheceram que as origens desse vírus ainda precisam ser determinadas com mais precisão, mas que “as evidências até agora apontam para o fato de que é um vírus que ocorre naturalmente, e não o resultado de uma criação em laboratório”.
Por fim, com a falta de evidências e provas científicas concretas de que de fato o vírus foi criado artificialmente, comprovamos se tratar de um #Vacilou. Não há indícios de que o novo Coronavírus seja resultado de engenharia genética como relatado pela Doutora Li-Meng Yan na entrevista propagada nas redes e os fatos apresentados em sua pesquisa científica são insuficientes.
Fonte: ARUANA